Volta e meia me pergunto por que continuamente volto a me aproximar de Jáder de Carvalho e sua obra. Lá se vão bons anos de pesquisa, um inclusive no exterior, uma série de artigos sobre o poeta, capítulos de livros e projetos de pesquisa. Quando, então, dou por vencida essa etapa na minha vida, eis que o moço velho de D. Maurício se reaproxima, como para dizer: sua missão não acabou, ainda há muito para fazer. E aí me vem à memória um de seus poemas mais pungentes, no qual exprime o sentimento da despedida ante a proximidade da morte:
Dobrai, ó sino, como numa despedida.
Dobrai, ó sino, como numa saudade.
Estou vivo. Sabeis. Mas tenho maus pressentimentos ...
(...)
Dobrai, ó sino, como numa despedida.
Dobrai, ó sino, como numa saudade.
Dobrai por mim!
Parece, pois, que esse sino, que por ele bateu lírica e ficcionalmente na agonia da última noite na casa da Agapito dos Santos, não para de dobrar em minha mente e em meu coração.
Nossa história, que começou pelo assim merecimento, afinal ele é um escritor pleno, inteiro e entregue, evoluiu para outra coisa, um certo amor. Ora, direis, isso é comum! Posso, no entanto, afirmar o contrário, pois não me recordo, por exemplo, de ter me apaixonado pelo escritor que analisei na época do mestrado. Talvez seja questão de pele, como se diz por aí, pele de texto, de sentimento, de admiração.
Diante dessa permanência, coloco o caso, para sair da epiderme, em outra dimensão: sua alma, em mim despontada, continua a fazer caminho pelas palavras, ora molhadas de chuva da Serra do Estêvão, ora arengueiras como o sol do sertão, outras amansadas pela onda do mar.
Nesse percurso, então, que está sendo navegação sem porto final, houve muitos ancoradouros
passageiros, nos quais embarcaram marinheiros dispostos a vislumbrar o horizonte de reminscências do poeta: Camila, Lívia, Sárvia, Carlos e Sávio, sendo que este último alongou-se bem mais na travessia, com bilhete somente de ida, é claro, como o próprio Jáder anteviu:
Se eu
fosse um brigue, não queria âncoras,
nem porto de descanso, nem apelos
para o sono da paz nas enseadas.
É, quem tem Jáder tem vida para a eternidade!
Sarah, como é bom ler seus textos. Jáder nos faz ter vontade de ler e de escrever. Escreva sempre no blog. Estarei atento para ler todos seus textos.
ResponderExcluirE vc é personagem dessa história.
ExcluirQue lindo, Sarah!!!
ResponderExcluirOh, Regina, obrigada por sua leitura amorosa!
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